quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Vida fácil

Outro dia eu estava calmamente tomando um café com meu marido num quiosque em frente ao supermercado, era uma tarde chuvosa, lá pelas 3 da tarde. Meu marido estava de folga aquele dia e aproveitando um intervalo entre as aulas saí da escola para tomar um café com ele.

Estávamos pois bem sossegados tomando um café e conversando quando de nós se aproximou uma moça na casa dos 20 e poucos anos (talvez nem isso) com duas crianças, uma de dois anos que puxava pelo braço e outra de colo. Pediu um real e quando disse que não tinha (tenho por hábito não dar esmolas) ela continuou pedindo, e quando eu disse que não ia dar mesmo perguntou:

- Nossa, moça, minhas crianças estão com fome. Não vai me pagar pelo menos um salgadinho para minhas crianças que estão com fome?

A moça e as crianças estavam bem arrumadinhas e limpas, a moça até vestia uma calça jeans e uma blusinha da moda. Estava até elegante, naquela elegância de clones que costumam vestir os jovens hoje em dia, viu um já viu todos.

Não sei se fui mal-criada com ela, que se afastou xingando. Depois comentei com meu marido que a uma hora daquelas, se realmente não tinham dinheiro nem para um salgadinho, não seria mais lógico que ela estivesse trabalhando para garantir seu sustento e o dos filhos?

Se tivesse que me definir com uma palavra um dia eu diria "observadora". Eu simplesmente observo. E durante a semana quando vou para a escola é muito grande o número de mulheres jovens, cheias de sacolas, indo e vindo nas ruas de comércio arrastando suas inúmeras crianças pela mão. Uma ou outra passa rápida, provavelmente rumo ao serviço, assim como eu. As outras, que se dão ao luxo de ir e vir pelas lojas em dia de semana, me parece que estão simplesmente torrando o dinheiro que algum idiota está nesse mesmo momento se esfolando para ganhar.

Não condeno a mulher que prefere ficar em casa cuidando da casa, dos filhos e do marido. É uma escolha de cada uma, mas a mim me parece que é grande o número de mulheres que estão por aí à toa, enquanto seus homens tratam de ganhar a vida. Considero isso o fim da picada, porque está na cara que um trabalhador a mais na família faria uma grande diferença.

Essas mulheres às quais aqui me refiro e que fazem a alegria das lojas de 1,99 e de roupas de baixa qualidade não se concentram em supermercados, pelo contrário, estão nas lojas de calçados e de roupas, e se vestem muito bem. Muitas vezes com crianças mal ajambradas ao lado, mas elas, sim, sempre vestidas na modinha simples que se multiplica nos corpos das jovens de baixa renda e escolaridade.

Acredito que a culpa disso tudo nem seja delas, foram criadas ouvindo a promessa de que nem precisariam estudar muito porque em breve encontrariam um homem para sustentá-las. Conheço algumas assim, que falam isso abertamente e não têm o mínimo pudor de admitir que estão esperando apenas um homem que as "assuma". Muitas dizem isso até para os pretendentes, e a partir daí creio que negociam as demais cláusulas do contrato informal tão comum hoje em dia.

É triste ver essas jovens que poderiam aspirar uma carreira, um futuro melhor para si e os seus, mas limitam-se a ser prostitutas mal pagas (nem sempre) de um homem só, vítimas e beneficiárias desse mercado que por mais que se pregue a libertação da mulher, perenizam nossa condição de escravas que vendem seus préstimos a quem oferecer o lance mais alto.

(zailda coirano)

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